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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mitologia!

 Árvore genealógica de Janas, Fadas, Elfos, Sereias…

                   

Nas ilhas Britânicas, a Jana ou Sácia latina e a Holda ou Perchta germânica

tomam a forma da rainha dos elfos ou das fadas. Ginzburg anota julgamentos

 de mulheres e homens na Escócia do final do século XVI ao XVII que

disseram ter-se encontrado com essa Rainha e seu consorte (ora um belo 

homem, ora um cervo – animal também ligado a Diana).

Na peça Sonho de Uma Noite de Verão, Shakespeare dá à Rainha o nome de

 Titânia, um nome dado pelo poeta romano Ovídios às filhas de Titãs em geral

 e a Selene – uma das formas de Diana – em especial. Já seu contemporâneo,

 Edmund Spenser, a chamou de Gloriana no poema The Faerie Queene, 

dedicado à rainha Elizabeth I
.
Ao marido de Titânia, Shakespeare deu o nome inglês tradicional de Oberon, 

derivado do francês Auberon ou Alberon, que por sua vez vem do alemão 

Alberich, “rei dos elfos” – que na Canção dos Nibelungos é o rei dos anões que

 guarda o tesouro cobiçado e afinal conquistado por Siegfried. A confusão 

entre elfos e anões pode parecer absurda para fãs de O Senhor dos Anéis de

 Tolkien e dos jogos de RPG, mas era perfeitamente natural para os povos 

nórdicos e germânicos. Seus elfos eram originalmente deuses menores da 

natureza e da fertilidade ou espíritos dos mortos. Seu nome – Elf em inglê

s e alemão, Alv (macho) ou Älva (fêmea) em sueco – deriva de uma raiz indo-

européia que significa “alvo, branco”, mas o mais famoso dos autores de 

sagas vikings, Snorri Sturluson, garantiu, no século XIII, que há dois tipos de

 elfos: os ljósálfar, elfos de luz, que vivem no céu (num lugar chamado 

Álfheimr) e os svartálfar (elfos negros) ou dökkálfar (elfos da sombra), que 

vivem no subsolo. Estes últimos, segundo ele, são o mesmo que dvergar

 (anões, em inglês dwarves). O rei dos “elfos da sombra” é Völundr, deus

 ferreiro conhecido pelos saxões como Weyland e protótipo dos anões 

artesãos do folclore. Nada a ver com os orcs e uruk-hai de Tolkien, nem com

 os drows dos RPGs.  Associadas a águas e grutas, confundidas com fadas,

 bruxas e anjas, as janas e sácias lembram as ninfas e náiades da mitologia

 grega e as rusalkas e vilas das lendas eslavas (chamadas “veelas” em Harry

 Potter e o Cálice de Fogo), famosas por atraírem belos jovens para o 

afogamento.

Também recordam as “damas do lago” das lendas arturianas. Uma delas, 

Viviane, criou sir Lancelot e deu ao rei Artur a famosa espada Excalibur; outra,

 chamada Nimue ou Nyneve (quando não a mesma Viviane), tem um caso de 

amor com Merlin e aprende sua magia, mas acaba por aprisioná-lo para 

sempre numa árvore, rocha ou castelo. A mais famosa, a fada Morgana,

 conspira na lenda clássica contra o meio-irmão Artur e acaba por causar sua 

perdição. Vale notar que os marinheiros italianos chamam de Fata Morgana 

uma miragem comum no estreito de Messina, produto da distorção de 

penhascos pela refração do ar, que dá a ilusão de pináculos ou castelos de 

altura fantástica.  Tanto os nomes de Nimue quanto o de Morgana derivam de 

antigas deusas celtas, que provavelmente foram as “rainhas das fadas”

 originais. Uma versão dá à primeira “dama do lago” o nome de Argante, de 

Ard Righan (Alta Rainha), epíteto de várias deusas celtas. Outra analogia 

clara é com as banshees do folclore celta – de bean sidhe, mulheres sidhe. 

Sidhe, Sith (alguém mencionou George Lucas?), Shee ou Si, conforme o

 dialeto, são os deuses e espíritos da natureza celtas, análogos aos elfos

 germânicos e às janas latinas. O nome sidhe, por sinal, referia-se 

originalmente às colinas nas quais esses seres – originalmente Tuatha de 

Danaan (filhos de Dana, a deusa-mãe irlandesa) – teriam se refugiado após a 

invasão da Irlanda pelos mortais. A mais famosa dessas colinas, Newgrange,

 é na realidade um grande túmulo pré-histórico, como as “casas das janas” da

 Sardenha. Aliás, elfos e elfas “das sombras” germânicos e nórdicos também 

vivem em colinas e montes de pedras.  Também se encontra, em Portugal e

 Galiza, o nome de xaira. Há, perto de Bragança, Portugal, uma localidade 

chamada Curriça (estábulo) das Xairas. Talvez uma variante do nome árabe

“mouras encantadas” do folclore português. 




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